Assisti recentemente o filme Transcendence, com Johnny Deep, Rebecca Hall e Morgan Freeman, um filme de 2014 e fiquei bastante surpreso com a aderência ao meu post de agosto de 2011 “Um Pouco de Ficcão Científica”, quase como se esse post fosse o roteiro do filme…
Ao ler o post ou assistir o filme o leitor irá perceber que há uma linha divisória entre o homem e a máquina, entre o ser humano e o robô e esta linha não é hoje conhecida pela ciência eletrônica nem pela neurociência:
Onde termina a matéria e inicia a alma? O que diferencia o ser humano de um robô? Temos uma alma ou espírito? Ou somos meramente fruto da organização eletroquímica da matéria, uma organização rara na natureza do universo que entre incontáveis tentativas e infinitas criações de universos paralelos por fim nos trouxe a vida, a consciência de nós mesmos?
Foi o que discutimos na série de posts “Afinal Deus Existe?”. Nós partimos de premissa que “Deus não existe” e lá no último post mostramos que a hipótese de que ele existe é muito boa e filosoficamente respeitável justamente por causa da impossibilidade de transposição de nossa mente para uma máquina, o que o filme explora como uma possibilidade.
Vamos pensar um pouco… se é possível escanear nossa mente, sentimentos, emoções, imagens e memória e coloca-la em um computador quântico programado com inteligência artificial em uma rede neural com uma capacidade igual ou superior aos nossos 86 bilhões de neurônios, então certamente este computador poderia imitar quase que exatamente uma pessoa…
Mas há uma grande diferença entre uma cópia de uma pessoa e uma pessoa… e é isso exatamente o que o filme discute e ao final a sociedade acaba “matando” o computador (PINN é o nome dele) que absorveu a mente do professor Will Caster (Johnny Deep) mas ao final se reconhece que foi um grande erro… a mente do cientista ou sua “alma” realmente entrou lá e depois se materializou em um corpo mais perfeito, modificado por nanotecnologia…
Hoje, uma impressora 3D pode copiar um objeto a milhares de kilômetros de distância e o objeto criado é idêntico a seu original de modo que em uma primeira observação poderá se pensar que o objeto foi transposto para outro lugar. Mas não é isso o que acontece, são dois objetos diferentes…
Ao se copiar a mente de uma pessoa e tentar se reproduzir sua estrutura neural irá ocorrer o “efeito borboleta” e a “cópia” irá se mostrar na verdade completamente diferente com o passar do tempo da original porque, no caso, estamos falando em personalidade e aprendizado, pequenas diferenças na cópia, por menor que sejam irão a longo prazo formar duas pessoas que reagem de modo distinto.
Mas a questão mais importante é que se o ser humano fosse um robô e pudesse realmente se transpor para um sistema perfeito e auto evolutivo então ele se unificaria e se tornaria como um deus, fato que o filme também explora. Ora… o universo inanimado acaba por criar um deus que o transformará, e essa transformação, sua obra, irá moldar o universo para ser a casa desse novo “deus imortal”, que na verdade é um deus material, um robô… tudo isso não parece tem muito sentido, não é mesmo?
Neste hipótese, temos um universo onde acontece o acaso em infinitas tentativas, e pode formar algo por exceção, que é organizado, e esse “algo organizado” teria, após certa evolução, uma capacidade auto evolutiva e passa a dominar o Caos impondo-lhe “a ordem”, o que deixaria de ser natural e obra do acaso. Há um contrassenso..
Do mesmo modo, a inexistência de Deus implica em que o “vácuo quântico” gere “partículas virtuais” que, uma vez materializadas, são a base construtiva de infinitos universos simultâneos dentro do Multiverso e onde, em determinado ponto e em determinado momento, a “matéria rara” se organiza e adquire consciência e vida a tal ponto que passa a dominar, controlar e modificar esse Multiverso irreversivelmente.
Temos aí o Caos criando a organização que organiza o Caos e, portanto, o destrói da forma que é e passa a molda-lo de outra forma. Assim, esse “Caos Criador” muda para ser o que a sua criação, a matéria inanimada, “desejou” criar…. algo que não parece ter sentido lógico e filosófico…
….podemos perceber que esta “caixa preta” (o Multiverso) de algum modo precisa continuar sendo sempre e eternamente aquilo que é e não pode se transformar a ponto de perder sua estrutura primordial e seu equilíbrio, se de fato ela existe desta forma como postulada de modo materialista, segundo a hipótese inicial de que Deus não exista.
Resumindo: Matéria e Caos criando por exceção a organização, que então toma vida e consciência e passa a se multiplicar e modificar o Caos o transformando, do mesmo modo como fazemos com este mundo.. rochas em pedra esculpida… metal em carros… organizando o Caos original… o Inferno de Dante em morada dos deuses, o Olimpo… em um flagrante desrespeito à segunda lei da termodinâmica, da lógica e do sentido natural das coisas como as conhecemos.
Mais simples e mais interessante é aceitar que do mesmo modo que existe o “algo” a invés do “nada eterno” existe também o “Deus eterno” que é o responsável pelas realidades materiais que conhecemos e criou as descontinuidades de espaco-tempo onde residimos temporariamente, em 3 dimensões que percebemos e outras tantas que não vemos onde, no cruzamento de realidades virtuais, as partículas elementares se agrupam para formar os tijolos que nos compõe, nossa “trinca de quarks” .
Finalmente, podemos dizer que se o Multiverso cria a Deus (ou deuses) e Deus cria o Multiverso então quem de fato surgiu primeiro? O que é mais difícil de acreditar, um “Caos Criador” ou um “Deus Criador”?
Se o Multiverso pode criar formas inteligentes e conte-las a ponto de que não interfiram significativamente em seu funcionamento, então na “pior hipótese” podemos dizer aos materialistas que Deus existe e se chama “Multiverso” ou “Natureza” (o chamado panteísmo”), assunto que tratamos na página “Teologia Científica”.
Artigo: IBM cria chip mais próximo a cérebro humano, com um milhão de neurônios.